sábado, 10 de outubro de 2009

Produção de um memorial buscando as referências iniciais sobre leitura e alfabetização

PROFESSORA: DAYSE CLÉA SOARES

Produzir este memorial, buscando minhas referências iniciais sobre leitura e alfabetização, é, para mim, reviver alguns dos momentos que considero mais marcantes de minha vida, dos primeiros contatos que tive com a leitura até os dias de hoje.
Nasci em uma família numerosa (de pai, mãe e seis irmãos), em que apenas o pai comandava as despesas; ele tinha apenas o primário (ainda assim, incompleto) e minha mãe “procurou” o ensino médio somente após algum tempo. Entretanto, mesmo não tendo ainda terminado os estudos, minha mãe tinha plena consciência da grande missão que estava por vir, a saber, a de nos inserir em um mundo diferente do qual ela viveu (em que a leitura não era prática comum). E talvez tenha sido ela a primeira a despertar em mim não apenas o gosto pela leitura, como também a noção da extrema importância que ela teria (e tem!) em minha vida. Durante nossa infância, não havia os recursos e os meios de comunicação que hoje existem. Isso explica, em parte, porque o contato com o mundo da leitura, para mim, durante esta fase, foi enfadonho e nada atrativo; nossa imaginação não era tão aguçada quanto hoje é a criatividade das crianças. Não tinha gosto pela leitura; o sentimento que nutria em mim em relação a ela era o de obrigação.
Quando ingressei na alfabetização, encontrei alguma dificuldade: percebia a escola como um lugar “frio”, insensível, distante dos alunos. Além disso, a relação entre professores e alunos era seca e não sugeria sequer a mais longínqua aproximação (!). Era algo meramente mecânico relacionar àquelas letras aos seus sons correspondentes. Era o bê-á-bá (a cartilha do ABC) do horror!
Já na segunda série, lembro-me da professora Rosemary. Era um pouco ríspida, mas sabia (e conseguia) dar um significado mais aconchegante à nossa aprendizagem. A escola, no entanto, continuava “fria” e distante. A única leitura marcante de que me recordo daquele momento foi a do livro Caminhos Suaves; ainda tenho presente em minha memória boa parte de seu conteúdo.
Do ensino fundamental, guardo em mim, viva, a lembrança do meu professor de Matemática, que procurava, sem reservas, nos incutir o gosto pelos números. Tinha como prática, sempre ao final de suas aulas, promover competições cujo motivo principal era a tabuada. Nessas competições, ficávamos todos entusiasmados e apreensivos em responder corretamente e, em caso negativo, ansiosos para que logo chegasse a aula seguinte e, então, pudéssemos nos redimir de nossa falha. Atentos nos mantínhamos até que o “mini-torneio” chegasse ao seu final e conhecêssemos o seu vencedor. Ah, que agradável lembrança!
No ensino médio, pouco fui incentivada à prática da leitura, apesar da exigência que havia para que lêssemos obras de alguns clássicos da Literatura Brasileira. Penso que o encantamento em relação à leitura ainda não havia em mim sido despertado e continuava inexistindo devido, entre outros motivos, a essa obrigatoriedade, à impressão que tínhamos de que ler era sinônimo de imposição e punição. A leitura, neste momento, ainda não era uma ação que me tivesse algum significado, imaginava.
Terminado o período escolar, sonhava em fazer uma faculdade. Prestei vestibular tão logo findo o ensino médio, mas não consegui aprovação (naquela ocasião, disputei uma vaga no curso de Jornalismo). Na época, obter êxito nesta empreitada não era tarefa nada fácil, uma vez que já trabalhava e ajudava nas despesas de casa. Por dez anos trabalhei na Fundação Bradesco, quando em 1994 fiz o concurso para o Magistério do Estado (já tinha o chamado 4º ano adicional e, portanto podia participar do certame), o qual logrei êxito, sendo aprovada e assumindo a nova função pouco tempo depois.
O aguardado momento da tão sonhada universidade, alguns meses depois, chegou. E foi na Universidade Estadual do Maranhão – UEMA, em parceria com o governo do Estado do Maranhão, que ofertou o PROCAD (Programa de Capacitação de Docentes), em que vários cursos de licenciatura foram oferecidos, entre estes o de Letras. A tarefa de escolher este curso não foi difícil: pensava em fazer algo em que leitura e reflexão fossem práticas constantes, e que ampliasse meus conhecimentos, em todos os sentidos; o curso de Letras, sabia, possibilitar-me-ia atingir estes objetivos.
A aprovação neste vestibular (apesar deste não gozar do mesmo prestígio de que gozava os vestibulares tradicionais) foi, para mim, motivo de muita euforia. Empolgada, entusiasmada e disposta a renunciar a emprego e férias, ingressei na universidade e nessa luta me fiz presente.
Cada etapa dos momentos que vivi enquanto cursava o PROCAD foi marcada pela gratificante convivência com excelentes professores (e pessoas, acima de tudo!). Estes compartilharam conosco das dúvidas, das ansiedades e, cada um a seu modo, deixou suas marca e contribuição para que nossa formação fosse a melhor possível, tanto no âmbito profissional quanto no que diz respeito ao plano pessoal.
A formação universitária contribuiu (e muito!) para repensar minha prática pedagógica. Após ter vivenciado algumas leituras e experiências, hoje vejo que os conceitos não podem nem devem ser trabalhados de forma estática e dissociados do contexto em que estamos todos, alunos e professores, inseridos e atuando. Estes devem sempre levar à reflexão e à formação e a pesquisa é uma das ferramentas de que dispomos para propiciar esta reflexão e esta formação.
A partir da vivência acadêmica, surge uma maneira diferente de ler e de escrever. Antes, mais na superfície; depois, muito além do que está explícito. Em outras palavras, o que outrora era, por mim, lido ou ouvido de maneira desconexa da realidade em que foi escrito ou dito, é agora interpretado e repensado sob vários pontos de vista (inclusive o meu), o que implica em uma mudança de postura e ação, já que agora disponho de mais elementos para discernir sobre uma ou outra informação acerca de determinado fato, separando o joio do trigo das notícias que nos chegam no dia a dia. Ver televisão, agora, não é apenas resultado do meu poder de compra (que me permite obter um televisor e me distrair sempre que assim achar conveniente); depois de minha experiência na universidade, posso comparar as diferentes visões de mundo que cada veículo de comunicação possui e tenta incutir em seu telespectador e/ou ouvinte e decidir sobre qual (is) programa (s) ver e ouvir. Isto só para citar um único exemplo.
A formação acadêmica me proporcionou, também, o contato com a pesquisa e com todo o aparato teórico que está por trás de cada tipo de conhecimento. Percebi a intrincada rede de relações que envolvem um acontecimento discursivo e justifica a unidade e a integração das teorias numa reflexão sobre o funcionamento da linguagem em geral. Dediquei-me, desse modo, a estudar Lingüística.
O contato com teóricos consagrados, tanto da literatura quanto da lingüística, durante esta passagem pela universidade, consolidou e enriqueceu o meu repertório de leitura.
Não parei por aí. Continuei mantendo um estreito contato com meus professores e professoras no intuito de expandir, dia após dia, meus conhecimentos. Especializei-me em Lingüista Aplicada a Língua Portuguesa, também pela UEMA e agora enfrento um novo desafio, a saber, estar participando do PROGRAMA GESTAR II, do Ministério da Educação. E, como todo desafio, este só será vencido se, mais uma vez, força de vontade, dedicação e perseverança forem palavras norteadoras da minha conduta frente a ele. Vejo, hoje, que através da prática de leitura podemos efetivamente participar do contexto que esse domínio proporciona no mundo moderno. Sem dúvida alguma.

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