terça-feira, 23 de junho de 2009

O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA

O texto tomado como referência para as constatações aqui arroladas “Ensino de língua portuguesa e contextos teórico-metodológicos” é assinado por Maria Auxiliadora Bezerra. No referido texto, a autora apresenta suas ponderações acerca da atual situação do ensino de língua portuguesa no Brasil. Inicialmente, ela descreve como se dá esse ensino, retratando o tratamento dado ao mesmo. Posteriormente, apresenta os argumentos que sustentam sua afirmação, apontando aspectos intrínsecos relativos à metodologia empregada neste ensino.
Como estratégia de situar o leitor, a autora traça um breve percurso histórico do ensino do Português enquanto disciplina escolar aqui no Brasil, na tentativa de mostrar que a atual prática desse ensino tem suas raízes arraigadas na história, ou seja, uma prática construída historicamente. Outro ponto abordado em seu texto diz respeito às contribuições da Lingüística. Ao longo de todo o texto, a autora aponta as contribuições teóricas que exercem influência na metodologia de ensino da Língua Portuguesa, trata sobre as renovações metodológicas ocorridas e cita as mudanças processadas quanto à utilização dos textos no referido ensino.
A primeira inferência que se pode fazer com relação ao que a autora se propôs a discutir é que ao longo da história da educação brasileira, em especial ao do ensino da Língua Portuguesa, grandes mudanças ocorreram até o atual estágio. Mudanças significativas, sob determinado ponto de vista, mas também, analisado por outro ângulo, mudanças que apontam para uma crise evidente.
No que se refere ao salto de qualidade, destacam-se as valiosas contribuições advindas dos estudos lingüísticos postulados pela Lingüística, Sociolingüística, Análise do Discurso, Lingüística Textual entre outras. Estas ciências têm oferecido um embasamento necessário ao auxilio da transposição didática, isto é, tem servido de base para a construção de um aparato pedagógico a serviço do ensino de Língua Portuguesa, permitindo aos professores mecanismos que favoreçam a compreensão do processo de ensino-aprendizagem qual seja reflexão – ação - reflexão.
Destaca-se, ainda, como mudança significativa, o modo de se conceber a língua, o que, certamente, determinou a forma de tratar o ensino. A partir do momento em que a língua passou a ser entendida como mecanismo de interação, o modo de ensinar Língua Portuguesa sofreu mudanças bastante perceptíveis desde a implementação de políticas públicas até as práticas em sala de aula.
Mesmo com todos esses avanços, há uma evidente crise no ensino de Língua Portuguesa atualmente. Essa constatação pode ser demonstrada pelo baixo desempenho lingüístico dos alunos em toda educação básica, e, em muitos casos, mesmo no ensino superior. As constantes avaliações feitas pelo Governo Federal têm comprovado esta situação. Em todas elas, os alunos brasileiros demonstram falta de habilidade com a leitura e a produção de texto escrito.
Há, neste sentido, uma explícita contradição: se o ensino de Língua Portuguesa recebeu grandes e significativas contribuições teóricas nos últimos tempos, por que os alunos apresentam tantas dificuldades no que diz respeito às habilidades de leitura e de escrita? Este é um questionamento que muitos (se) fazem em particular professores de Língua Portuguesa. Certamente que as respostas só podem ser construídas coletivamente, a partir de um exame crítico da questão.

A CRISE DO ENSINO E A LÍNGUA FALADA NO BRASIL
A este respeito, boa parte das considerações já foi antecipada. Como dito anteriormente, não há como negar que o ensino brasileiro passa por séria crise, e isso muito particularmente tem haver com o ensino da língua. O que não faltam são exemplos que ilustrem e evidenciem esta assertiva: as altas taxas de analfabetismo; o tão famigerado fracasso escolar, expressado nas sucessivas retenções, abandonos e evasões, no número cada vez crescente da massa de analfabetos funcionais, entre outros, para não citar todos de uma interminável lista.
Vê-se, portanto, que a crise é um fato. Na realidade, deve-se falar em crises, uma vez que se há crise na educação de um país, conseqüentemente há em quase todas as áreas: social, científica, cultural, econômica, política...
De modo específico, analisando-se um dos aspectos da crise do ensino, é necessário que de imediato se estabeleça uma relação intrínseca entre o ensino e a língua. É notório que o Brasil, por apresentar uma diversidade étnica, cultural e geográfica, por exemplo, não pode apresentar uma homogeneidade quanto ao modo de usar a língua. Isto confere a língua falada aqui, como em qualquer outra língua, características heterogêneas. Assim sendo, a língua falada apresenta variações de diferentes naturezas.
E são estas variações que em certa medida imprimem ao ensino graus de dificuldade, mais precisamente no que diz respeito ao não reconhecimento da legitimidade desta modalidade no âmbito da escola. Grosso modo, a escola não tem uma postura de acolhimento da língua falada pelo aluno no seio de sua comunidade e trazida para o interior desta. O conflito entre a língua reconhecida pela escola (a padronizada pela escrita) e as variações usadas na fala pelo aluno resulta nesta eterna crise, com repercussões no social, no educacional, no cultural entre outros.
É preciso o enfrentamento do problema que se coloca. A superação desta ou de qualquer que seja a crise passa inevitavelmente por uma reflexão mais detida nas questões que permeiam tal situação. Mais que se deter no ato de refletir, urge uma tomada de posição, de atitudes, de ações concretas haja vista que também são concretas as crises vivenciadas no ensino, na sociedade, na área cientifica, no magistério, no Brasil como um todo.

REFERÊNCIAS
BEZERRA, Maria Auxiliadora et. al. (orgs.) Gêneros textuais e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002.CASTILHO, Ataliba Teixeira de. A língua falada no ensino de Português. São Paulo: Contexto,19

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